Autor do livro “Guia Patrimonial da
Pequena África” conta ao nosso site como surgiu a ideia por trás do livro, um
pouco sobre a influência da cultura africana no Brasil, sobre a sua vida,
racismo e muito mais.
(1) LM - Você poderia falar um pouco mais
sobre você?
Carlos Nobre - Sou jornalista, escritor e
professor. Trabalho na PUC-Rio como professor. Tenho sete livros publicados.
Dois deles sobre o movimento Mães de Acari.
(2) LM - Como surgiu a ideia
para escrever o livro?
Carlos
Nobre - Porque percebi há dez anos a presença de negros célebres sendo
homenageados nas ruas através de bustos e estátuas. Achei que era um fenômeno
especial e decidi investigar mais. Acabei fazendo um projeto e fui contemplado
pelo Petrobras.
(3) LM - Como foi o processo de
mapeamento do Rio de Janeiro? Foi cansativo? Deu trabalho?
Carlos Nobre - Foi muito exaustivo. Ficamos dois
anos buscando bustos e monumentos nas praças que falassem sobre negros. Tivemos
ajuda de líderes comunitários e da Fundação Parques e Jardins.
4) LM - Quantos e quais itens
você encontrou pelo Rio de Janeiro?
Carlos Nobre - Encontramos 45 monumentos sobre
negros; quatro sobre índios; 19 sobre artistas e escritores; oito árvores
africanas; 11 obras do Mestre Valentim, e várias ruas, becos e praças ligadas à
cultura negra.
(5) LM - Ouvi dizer que em seu livro
você explica e relata sobre o processo de "enbranquecimento" de
algumas personalidades negras. Como funciona esse processo?
Carlos Nobre - É que quando o negro se destaca
muito, se torna uma estrela, a tendência da sociedade é vê-lo como branco e não
como negro. Assim, Machado de Assis, Carlos Gomes, Lima Barreto, que são
famosos, mas afro, são vistos como brancos.
(6) LM - Como você vê a participação e
influência da cultura africana no Brasil? Em que lugares podemos encontrar essa
influência?
Carlos Nobre - Em Salvador, pois, 80% da população
é negra. Então, cultura africana sempre foi marcante e dominante em diversos
aspectos (religião, música, dança, teatro) em Salvador. O Rio também tem
influência da cultura negra. O exemplo mais clássico são as escolas de samba,
que dominam o cenário cultural. Em geral, o nordeste é muito marcado pelas
culturas africanas. Os estados menos marcados são os do Sul, devido a força maior
da colonização europeia.
(7) LM - Você acha que a África sofre
ainda de uma resistência por parte de algumas pessoas, por ser retratada ainda
de uma maneira esteriotipada por alguns veículos de informação? Pra você quão
importante é a missão dos veículos de informação na hora de moldar a imagem de
um continente inteiro?
Carlos
Nobre - Isso é antigo, ou seja, a África sempre é posta como um
continente atrasado, primitivo, ou seja, estereotipado. Cabe aos intelectuais
lutar sempre para mudar essa visão. É isso que viemos fazendo há anos. No
entanto, já começa a existir um entendimento da complexidade africana por
alguns setores da mídia. Na TV Brasil, existem, muitos programas afro.
Vamos ver se eles se expandem.
(8) LM
- Como é a questão do preconceito racial para você? Você sente certa presença
ainda no Brasil? Você já sofreu alguma forma de preconceito?
Carlos Nobre -Todos os negros em geral já
sofreram de preconceito. Essa é uma doença que deve ser combatida eternamente.
No Brasil, dizia-se, antigamente, que não havia preconceito. Mas, hoje, a gente
vê como o Brasil ainda é racista com os diversos casos de racismo sendo
relatados pela imprensa.
(9) LM - No livro, você cita a
presença de bairros tão influenciados pela cultura africana que podem ser
chamados de "A Pequena África". Poderia falar um pouco mais sobre
esses bairros?
Carlos Nobre - São eles: Saúde, Gamboa, Santo
Cristo, Centro, Lapa, Catumbi, Estácio, Cidade Nova, Andaraí. Há também
quem discorde desta classificação, acham que a Pequena Africa é formada por
Saúde, Gamboa e Santo Cristo. Todos esses bairros foram afetados pela
escravidão e pela cultura negra nas ruas. Por isso, guardam muita memória de um
passado afro marcante.
(10) LM - Além do livro, há algum
outro projeto em mente? Planos pro futuro?
Carlos Nobre - Estamos escrevendo um livro sobre
samba – um romance- para ser lançado em meados de 2015.
(11) LM - Você pensa em retratar
a ideia do livro de outro jeito, talvez um filme?
Carlos Nobre - Na última página do livro, há
um DVD, que é um documentário sobre a Pequena África, de 50 minutos. Tem muita
coisa interessante nele. A região merece um filme, mas, agora, estou sem tempo
para pensar nisso.
(12) LM - Carlos, agora se sinta livre
para convidar o pessoal para o lançamento do livro, o espaço é seu.
Carlos Nobre - Vem todos para o lançamento (15/11/2014). Vão
gostar!