Eu li a alguns dias que a banalização do amor é um processo irremediável do século
21, que as relações se tornam voláteis, que os seres humanos dizem que se amam com
mais frequência e talvez realmente se amem com mais frequência e volatilidade, mais
espontaneidade e mais velocidade do que eles diziam que amavam nos últimos séculos
e a pessoa que escreveu o texto apontou isso como um mega problema, como um mega
defeito do século 21, mas eu não concordo com isso, na minha opinião, a grande
realidade é que o sentimento do amor tinha que ser um sentimento banal, ele sempre
teve que ser um sentimento banal e geral, amar alguém deveria ser a regra padrão e a
regra fundamental do viver humano, inclusive, as restrições e a qualificação que a
gente da pro sentimento de amor são simplesmente inexplicáveis.
Quando a gente para pra pensar no que é amor, no conceito de amor, a conclusão que
eu chego é que o amor, nada mais é do que se importar com o próximo dentro das
limitações do próximo e crer que o próximo é o melhor que ele pode ser dentro do que
ele representa, eu acredito que isso deveria ser o mínimo que a gente tem pelos outros,
uma empatia máxima, uma empatia profunda, uma empatia real e espontânea, é isso
que eu acredito que deveríamos ter pelos outros e acompanhado disso, o mínimo
simples de abstenção de resposta, pois quando estamos em uma relação com o
próximo, quando abrimos mão do nosso direito de revolta, quando abrimos mão do
nosso direito de sobrepujar a vontade do próximo pela nossa vontade, esse é o
momento em que amamos de verdade, quando a gente deixa de criar um conflito pra
viver bem, nesse momento, nós amamos de verdade, pelo menos nos nossos
relacionamentos e eu acredito que isso deveria ser assim na vida comum do ser
humano, nesse momento, eu paro e penso que se tem uma coisa que o ser humano
deveria banalizar é o amor.
Existia uma frase que era pintada nas pilastras da perimetral aqui do Rio de Janeiro a
muito tempo atrás, ela foi pintada de cinza, depois tentaram restaurar e depois
derrubaram a perimetral de vez, eram os poemas do Profeta Gentileza, a frase principal
que havia escrita era "Gentileza gera Gentileza" e eu sinceramente acredito com todas
as minhas forças nisso, eu acredito que o ser humano deturpou movimentos naturais
dele em prol de uma vida em uma sociedade estruturada e essa estrutura não
necessariamente é uma estrutura que privilegia todos os seres humanos que a
compõem, ela é simplesmente uma estrutura, um método que outros seres humanos
acreditaram que se todos se organizassem daquele jeito, as coisas dariam certo e na
verdade não deu.
Quando você olha em volta, não é possível que você se sinta confortável em ver
pessoas que tem muito e outras que tem pouco, eu não consigo acreditar que isso gere
conforto em alguém, eu consigo acreditar que algumas pessoas vejam normalidade
nisso, porém, conforto não, eu durante muito tempo vi muita normalidade nisso e
acreditava que quem tinha muito, tinha feito pra ter muito e quem tinha pouco, tinha
feito pra ter pouco, quando na verdade, isso não é verdade, todo mundo sabe que isso
não é verdade, todo mundo sabe que quem é pobre, não necessariamente é pobre
porque não trabalha e quem é rico não necessariamente é rico porque trabalha, todo
mundo sabe que as estruturas sociais são assim porque elas são justamente edificações.
Quando você constrói um prédio, o 8° andar não deixa de ser 8° andar pelo fato de
você escrever 7° nele e o 1° andar não deixará de ser o 1° por você escrever 2° nele,
pois essa é a estrutura do seu prédio, é claro, você subir de elevador do 1° ao 8° andar,
mas mesmo assim os andares não estarão no mesmo andar, pois essa é a estrutura do
prédio e a sociedade foi estruturada pra se capitalizar encima desse vício, ou seja,
quanto mais viciada a sociedade é nesse aspecto, mais certo ela da enquanto sociedade.
Ao longo do tempo, nós colocamos na cabeça de todo indivíduo que a razão é a
senhora do pensamento, desde a época de Descarte, onde criamos o processo da razão
pura, a razão pura filosófica, onde a razão por si só estrutura e forma qualquer
pensamento de forma perfeita, nós falhamos enquanto sociedade pensante e todo o
modelo estrutural da sociedade é um modelo cartesiano, inclusive, é só isso que as
pessoas falam, que vivemos em um modelo cartesiano e as mesmas ignoram
completamente um erro que a estrutura cartesiana tem, que é a estrutura cartesiana a
partir de uma premissa que não necessariamente está certa. Quando você retrocede e
questiona todos os seus pensamentos até um ponto estrutural básico, não
necessariamente esse ponto estrutural básico, essa formação de pensamento, é correta,
porém, a gente simplesmente ignora isso e quando a gente tem um situação que nos
obriga a questionar essa estrutura, a gente simplesmente responde, não soluciona e
existe uma diferença muito grande entre essas duas palavras, sabemos que na escola e
na nossa base educacional quando a gente se depara com a as palavras "Responder" e
"Solucionar", elas necessariamente são sinônimos, mas na vida elas não são. Quando
temos um problema matemático, uma questão matemática e você responde ou
soluciona esse problema, você exatamente a mesma coisa, porém, quando você tem um
problema social e você responde ele, você não necessariamente está solucionando o
mesmo e esse ponto tão discreto porém tão relevante passa tão desapercebido da
mentalidade humana, que achamos que estamos indo pra direção certa até quando não
estamos, a gente pensa que toda resposta é uma solução, a gente pensa que todo
raciocínio lógico é perfeito, mas não é, NÃO É.
Quando você perde a empatia pelo próximo, quando você abre mão e se colocar no
lugar do outro, quando você abre mão de se colocar no lugar do outro pra agir, você
falhou, quando você desiste do direito de pensar: "Se eu tivesse naquela posição, como
será que eu me portaria?", você falhou completamente dentro da sua razão plena,
dentro do seu raciocínio lógico, você terá falhado pelo simples motivo desse raciocínio
não se aplicar ao contrário, se você estivesse passando pela mesma situação, você iria
sofrer e você não gostaria de estar sofrendo, você iria achar que aquilo não é justo,
assim como a pessoa que está passando também não acha que aquilo é justo e o fato de
vocês dois acharem isso estando em situações alternadas não necessariamente significa
que tenha um sentido, eu fui muito longe agora, se você está vendo esse vídeo e for
burro, você provavelmente não vai entender, se você for um gênio, você
provavelmente não vai entender, eu não me entendi, mas a questão é: A gente precisa
abrir mão, não do que é nosso, não do que é nosso direito fundamental, não
necessariamente do que é importante pra nossa vida, mas temos que abrir mão daquilo
que vai gerar conflito, o que eu quero dizer, ou melhor, John Locke dizia que uma
pessoa quando nasce, tem dois direitos fundamentais, o direito a vida e o direito a
posse, ou seja, temos direito a estar vivos e temos direito a ter tudo que temos,
comecei a pensar sobre isso e quando nascemos, tudo que temos é nossa vida, quando
chegamos ao mundo, a única coisa que temos é a vida, então, qual foi o momento em
que qualquer coisa que a gente "conquistou", passou a se tornar um direito fundamental
quando na verdade a única coisa que nos foi realmente dada a nós, foi a vida? Mais
nada foi dado pra gente, e porque as coisas que a gente "conquista", necessariamente
são nossas? Quando você conquista uma vitória, essa vitória é sua, porém, quando
você conquista um sentimento coletivo, esse sentimento não é seu, quando você
"conquista" uma pessoa, não necessariamente essa pessoa é sua, quando você usa a
palavra "conquistar" pra alguém, isso é terrivelmente doentio. Nós assimilamos, no
máximo coexistimos, nós coexistimos até com a matéria, nós coexistimos até com
nossas posses, a gente não é dono de nada que existe nesse planeta. Se eu pego algo da
sua mão e a partir deste momento esta coisa passa a ser minha, esta coisa nunca foi sua
de verdade, porém, eu não posso fazer isso com sua vida, se eu tirar sua vida de você,
ela não vai ser de mais ninguém, ela é sua e de mais ninguém. Eu posso tirar seus
órgãos dar para outras pessoas, ou seja, nem o que te compõe é seu, a única coisa que
é realmente sua é a sua vida e se a gente não tiver como fundamento básico essa
premissa e respeitá-la, eu acredito que nada faça sentido, se a gente não viver e
respeitar nos outros o único direito fundamental que a gente tem e o outro fizer a
mesma coisa, nada faz sentido e o único jeito que existe de você respeitar esse direito é
dar ao outro a chance de viver da mesma forma que você vive.
Eu não estou falando sobre as pessoas ricas serem ricas e as pessoas pobres serem
pobres ou as pessoas com saúde terem saúde e as pessoas doentes não terem, não, não
estou falando disso, estou falando das pessoas terem as mesmas oportunidades de
viver. Eu sei, é abstrato, é complicado, mas me diga uma coisa, você, hoje, preferiria
estar em paz com todos que você conhece ou concordar com metade e discordar de
metade simplesmente porque você quer ser melhor do que eles? É algo muito
importante a se pensar.
Da próxima vez que você disputar algo com alguém, se pergunte porque você está
disputando, eu nunca disputei nada na minha vida fora concursos para escolas públicas
e bolsas em um escola privada e o que me matou um dia, foi descobrir que eu não
passei pra uma das escolas que eu queria, mesmo que eu tenha passado pra todas as
outras e até mesmo conseguido a bolsa que eu queria, faltou uma que eu não consegui
passar, na verdade, o que me abalou, foi descobrir que eu não era bom o suficiente,
mas afinal de contas, eu não era bom o suficiente para o que exatamente? Eu não era
um aluno bom o suficiente? Eu não tinha uma mente boa o suficiente? E qual era o
problema se eu não tivesse conhecimento suficiente? Era só eu estudar um pouco mais
e talvez no próximo ano eu passaria, mas aquilo me deixou tão abalado, que minha
vida inteira mudou depois disso e foi nesse momento que eu percebi que na verdade, o
que eu queria, era ser melhor pros outros, eu queria me tornar o melhor, mas não pra
mim, eu queria me tornar melhor para satisfazer expectativas de terceiros e é muito
complicado quando queremos viver para os outros, pois quando abrimos mão do único
direito que temos, o que nos resta esperar? Por mais que você tenha que conviver com
os outros e respeitar o direito de vida dos outros, a sua vida é exclusivamente sua e
você só pode viver pra você, você tem que se amar tanto quanto você ama os outros e
os outros tem te amar tanto quanto eles se amam, é exatamente assim que a sociedade
deveria funcionar.
Quando eu paro pra ver que muitas vezes a gente se desestrutura, que a gente perde
tempo, muitas vezes a gente para de viver porque se frustrou com uma coisa que não é
nem algo estrutural de nós e eu me sinto culpado, mas tiro uma conclusão fundamental
disso tudo, a estruturação social foi criada para antagonizar as pessoas e se a razão
como premissa fundamental para a sociedade torna a mesma irracional, pois a razão
não é igual para todos, um exemplo disso é: Se você está no primeiro andar e você
precisa que duas pessoas cheguem ao terceiro andar, porém, uma pessoa está no quinto
andar do prédio e a outra no segundo andar, você da a instrução para que essas pessoas
subam dois andares, uma pessoa vai chegar no sétimo andar e a outra pessoa vai parar
no quarto andar, as duas vão teimar dizendo que estavam certas e no final, as duas
podem estar, porém, as duas terão chegado ao lugar errado pois a sua instrução foi
errada, pois a sua premissa foi errada, independente de usar a lógica e a razão, o
resultado será errado pois a visão das pessoas é diferente, mas nesse caso, apenas a
visão de uma pessoa seria levada em consideração e provavelmente seria a sua já que
você que estava dirigindo as ordens, assim como neste caso, a sociedade no papel de
modeladora de indivíduos, quando se depara com uma divergência, com opiniões
diferentes, alguém se sobressai e alguém é subjugado e eu através disso percebi que
fazer o outro ter as mesmas condições de vida que eu, não era inveja e nem era
caridade, eram apenas empatia e o desejo de sobreviver, eram apenas o desejo de não
subjugar e não ser subjugado, porém, de tudo, não foi ruim alguém um dia me
subjugar, alguém um dia ter me feito antagonista, pois se não fosse isso talvez eu
nunca teria chegado a conclusão que todos deveriam ser iguais, se eu não partisse da
premissa de que algo na sociedade estava ruim, eu nunca sentira o desejo de
SOLUCIONAR tal problema.
O que quero dizer é:
Se você acreditar que você amanhã deve ser melhor do que vocês é hoje, você está
competindo, se você acreditar que o seu eu de 10 anos mais tarde deve ser melhor do
que seu eu de agora, você está competindo, pois a vida é um fluxo, a vida é uma
corrente de aprendizado e a maior e a principal função da vida, a grande e verdadeira
função que deveria ser banal a todos os indivíduos é amar, porque se você realmente
respeita as diferenças, se você realmente quem são os outros, se você realmente sente
empatia pelos próximo, se você realmente acredita que os outros devam ocupar um
lugar tão importante quanto o seu(E eu não estou falando de condições, Capitalistas,
Comunistas ou Anarquistas, eu estou falando de estruturações filosóficas da vida), se
você acredita que todas as pessoas deveriam partir da mesmas condições de vida, você
ama e a grande verdade da vida é que GENTILEZA gera GENTILEZA, quanto mais
você ama, mais você é amado, quanto mais você da, mais você recebe, quanto mais
você proporciona, mais lhe será proporcionado, a vida é uma torrente de exemplos,
assim como o primeiro texto que eu li me inspirou a fazer este texto, assim como o
Profeta Gentileza me inspirou a fazer este texto, eu espero que através desse texto eu
possa inspirar vocês a amarem, a olharem pro próximo e enxergar alguém que tem as
mesmas ou tantas dificuldades quanto vocês e espero que vocês possam ajudar os
outros a ter as mesmas condições filosóficas de vida que você e que os outros possam
te ajuda a ter as mesmas condições filosóficas de vida que eles, afinal de contas,
gentileza gera gentileza.
Obrigado por parar pra ver o que eu tenho a dizer, um abraço pra quem quiser, um bom
dia no começo, uma boa tarde no meio e uma boa noite no final, agradeço do fundo do
meu quintal.
De: João Marcos
Para: Toda humanidade